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Acessibilidade Web: Por que devemos nos importar?

Atualizado em 27 de maio de 2025

Acessibilidade
Frontend
Inclusão Digital

Uma introdução ao mundo da acessibilidade web, sua importância e impacto na vida das pessoas. Este é o primeiro de uma série de posts sobre como construir sites mais acessíveis.

Você já se sentiu excluído?

Imagine esta situação: você precisa completar uma tarefa urgente em um site, mas não consegue encontrar o botão de confirmação porque as cores são tão parecidas que você não consegue distingui-las. Ou talvez o site esteja cheio de animações que te distraem e dificultam a concentração. Ou pior: você usa um leitor de tela e o sistema simplesmente não lê os elementos da página corretamente.

Frustrante, né?

Esta é a realidade diária de milhões de pessoas quando tentam usar a web. E não estou falando de sites obscuros - estou falando de serviços essenciais, sites governamentais e grandes plataformas de e-commerce.

O que é acessibilidade web?

Em essência, acessibilidade web é sobre criar sites e aplicações que todos possam usar, independentemente de limitações físicas ou cognitivas, ou mesmo da qualidade da conexão de internet ou dispositivo.

Parece óbvio, né? Afinal, a web foi criada para ser universal. Como Tim Berners-Lee (o cara que inventou a World Wide Web) disse uma vez: “O poder da web está em sua universalidade. O acesso por todos, independentemente da deficiência, é um aspecto essencial.”

Mas na nossa correria diária, com prazos apertados e pressão para entregar rapidamente, acabamos esquecendo disso.

Quem se beneficia da acessibilidade?

Quando pensei pela primeira vez em escrever sobre acessibilidade, a primeira imagem que veio à mente foram pessoas cegas usando leitores de tela. Mas a verdade é que o universo da acessibilidade é muito mais amplo. Estamos falando de:

  • Pessoas com deficiências visuais: desde cegueira total até questões como daltonismo (eu costumava pensar que daltonismo era só “confundir vermelho e verde” até descobrir que existem vários tipos e intensidades)
  • Pessoas com deficiências auditivas: desde surdez completa até vários níveis de perda auditiva. Um amigo meu tem perda auditiva parcial e vive reclamando de vídeos sem legendas
  • Pessoas com deficiências motoras: pense em pessoas com tremores nas mãos ou aquelas que não conseguem usar mouse. Algumas pessoas navegam exclusivamente com teclados ou dispositivos especiais
  • Pessoas com desafios cognitivos: aquelas com dislexia, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), ou no espectro autista podem ter dificuldades com certos tipos de conteúdo ou navegação complicada
  • Todos nós, em algum momento: aqui está algo que muita gente esquece: todos nós enfrentamos desafios. Já quebrou o braço? Perdeu os óculos? Tentou usar o celular enquanto segurava um bebê? Usou seu laptop sob sol forte? Essas situações temporárias nos mostram como rapidamente podemos precisar de recursos de acessibilidade

Mas vai além de inconveniências temporárias. Qualquer um de nós pode desenvolver uma deficiência permanente ao longo da vida - um acidente, o envelhecimento natural, uma doença. A deficiência não é algo que acontece apenas com “os outros”. Quando criamos sites acessíveis, não estamos apenas ajudando outras pessoas; estamos investindo no nosso próprio futuro também.

A realidade em números

Globalmente: Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 15% da população mundial (mais de 1 bilhão de pessoas) vive com algum tipo de deficiência.

No Brasil: Segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), temos 14,4 milhões de pessoas com deficiência (7,3% da população).

É como se toda a região metropolitana de São Paulo não conseguisse acessar adequadamente os serviços digitais.

Por que a acessibilidade web é importante?

Inclusão e dignidade: Quando um site não é acessível, estamos excluindo pessoas de serviços essenciais. Pense em não conseguir pagar contas online, perder oportunidades de emprego porque formulários não funcionam com tecnologias assistivas, ou não conseguir acessar serviços governamentais de forma independente.

Mercado: É um mercado enorme que você pode estar excluindo. Além disso, muitas soluções de acessibilidade melhoram a experiência para todos. Legendas ajudam em ambientes barulhentos, alto contraste funciona sob sol forte, navegação por teclado é mais rápida para usuários avançados.

Legal: No Brasil, o Capítulo II da LBI (Lei Brasileira de Inclusão - Lei 13.146/2015) trata especificamente da acessibilidade digital. EUA usa o ADA (Lei dos Americanos com Deficiências) em processos contra sites inacessíveis. E esses processos são caros.

Como está a acessibilidade hoje?

Sendo sincero? Uma lástima. O relatório 2025 do WebAIM Million analisa o milhão de sites mais acessados:

  • 94,8% têm falhas detectáveis automaticamente
  • Média de 51 erros por página
  • Problemas mais comuns: baixo contraste (79,1%), imagens sem alt text (55,5%), links sem descrição (45,4%)

E isso só conta problemas detectáveis automaticamente!

Um exemplo prático

Como desenvolvedor, já vi muito código assim:

<!-- O jeito preguiçoso -->
<div class="botao" onclick="enviarFormulario()">Enviar</div>

<!-- O jeito certo -->
<button type="submit">Enviar</button>

Visualmente idênticos, mas com um abismo em acessibilidade. O <div> não recebe foco por teclado, leitores de tela não o identificam como botão, e não funciona com Enter/Space.

A tag <button> já vem com tudo isso embutido. É literalmente menos trabalho fazer certo!

Veja a diferença na prática - tente navegar só com Tab e Enter.

O que vem por aí

Nos próximos posts, vou explorar as necessidades de diferentes públicos:

  1. Cegueira - Como pessoas cegas navegam na web
  2. Baixa visão e daltonismo - Muito além do contraste
  3. Deficiências motoras - Navegação por teclado e tempo de resposta
  4. Surdez - Conteúdo multimídia inclusivo
  5. Desafios cognitivos - Simplicidade sem empobrecer conteúdo

Cada post terá exemplos práticos que você pode usar no seu próximo projeto.

Agradecimento

Esta série nasceu depois que li “Practical Web Accessibility” do Ashley Firth. Um livro fantástico que recomendo para qualquer profissional web. Sua abordagem prática me inspirou a compartilhar o que aprendi com perspectiva brasileira.

Conclusão

Acessibilidade web não é caridade - é necessidade para milhões de pessoas. Como quem constrói a web, temos a responsabilidade de criar espaços digitais inclusivos.

A boa notícia? Não precisa ser complicado. Muitas vezes, usar o elemento HTML correto já faz diferença enorme.

E aí? Te convenci a tornar a web um pouquinho melhor?

Referências